Níveis de Inserção de Tecnologia em Sistemas de Produção de Leite

Níveis de Inserção de Tecnologia em Sistemas de Produção de Leite

Vamos, então, reproduzir as palavras do professor naquela tarde: “Tecnologia - é o conjunto de medidas e práticas aplicadas num sistema de produção que promovem aumento de produtividade com redução de custos”. A tecnificação, por sua vez, estaria associada ao nível e quantidade e qualidade de equipamentos e ou maquinários utilizados dentro de um sistema de produção.

O primeiro conceito está associado à eficiência. O segundo, não necessariamente. O uso de máquinas e equipamentos avançados pode promover mudanças. Nem sempre elas acontecem. Dependendo do nível tecnológico e custos dos equipamentos utilizados, caso os mesmos não promovam as melhorias planejadas dentro de um sistema de produção os resultados são extremamente catastróficos.

Quando avaliamos sistemas de produção de leite qual deve ser nossa primeira preocupação? Se fizermos uma pesquisa, na forma de enquete, dentre inúmeras opções de respostas passíveis de serem formuladas, qual seria a resposta? Não me arrisco a sugerir uma preocupação única, mas sim um foco de atuação. Arriscaria posicionar produtores para um foco de trabalho voltado para produção de alimentos (forragens em geral) e distribuição de rebanho (ou estrutura de rebanho como classificam alguns profissionais).

Atualmente e, cada vez mais estamos acessando resultados de pesquisa e trabalhos científicos que elucidam e apontam para novos desafios associados à nutrição, sanidade, conforto, bem-estar e comportamento animal. Trabalhos envolvendo manejos de pastagens, níveis de adubação, lotações e curvas de resposta em termos de produção de leite e crescimento de forrageiras. Níveis desejáveis em termos de energia e proteína para cada categoria animal e para cada fase de desenvolvimento dos mesmos em diferentes sistemas e condições climáticas ou de manejo. Cada vez mais temos acesso à informação, seja por meio de cursos presenciais ou mesmo à distância. Com o boom da internet acessamos, em tempo real, e com qualidade fontes seguras de conhecimento, como o portal MilkPoint (por exemplo).

Isso tudo é muito interessante e importante, mas temos que ter cautela. Em muitos casos, fazendo uso do jargão popular: “as mãos são trocadas pelos pés”, ou seja, medidas e decisões são tomadas precipitadamente. Podemos citar inúmeros exemplos. No caso de um sistema de produção à pasto, com baixa produtividade e baixa lotação. Muitos colegas têm visitados propriedades com essas características e erroneamente tem apresentado como saída e opção para o produtor a implantação de um sistema irrigado. Nada contra irrigação de pastagens, muito pelo contrário, sou amplamente favorável, desde que façamos avaliações fundamentadas em critérios adequados. Por quê irrigar? Quando irrigar? Como irrigar? Onde irrigar? Perguntas simples precisam ser respondidas. Pensemos apenas na primeira. Devemos irrigar para aumentarmos a produtividade. Correto. Então lanço outra pergunta: o produtor domina o manejo da sua pastagem? Seu solo está corrigido? Sua V% proporciona capacidade de resposta à adubação nitrogenada? A altura de resíduo do seu manejo é adequada/controlada? Em que região do Brasil vai ser implantado esse projeto? Qual será o incremento em termos de lotação gerado pela irrigação? Sabendo que o fotoperíodo em SP por exemplo é fator limitante para o crescimento de forrageiras tropicais qual deve ser o custo limite para implantarmos um pacote tecnológico, termos respostas positivas e pagarmos nosso equipamento? O produtor está apto para manejar um sistema mais complexo? O manejo da irrigação vai facilitar o complicar sua vida? Eu, particularmente, me preocupo primeiro com as condições básicas de manejo. Com o domínio do sistema. Se o produtor apresentar eficiência máxima num sistema sem água, então eu ofereço uma nova possibilidade.

O mesmo raciocínio pode ser aplicado para sistemas confinados. Quando construir um free-stall? Um free-stall resolve os problemas de um sistema com animais lotados de barro num confinamento a céu aberto? A dieta fornecida manualmente é menos eficiente do que o manejo com um vagão total mix? Perguntas que parecem ter respostas óbvias, infelizmente, não refletem os quadros que encontramos no campo. Antes de ser proposto ou pensarmos em free-stalls, vagões, precisamos pensar em alimentos. O produtor é um bom agricultor? Sabe plantar? Produz volumoso com qualidade e quantidade suficiente o ano inteiro? Como propor um sistema de free-stall para um péssimo agricultor. Como propor a compra de um vagão sem volumoso constante?

Produtores trocam de empresas de núcleos minerais em busca de profissionais competentes que possam formular uma “dieta miraculosa” que eleve sua produção... Vou comprar o sal daquela empresa porque depois que meu vizinho começou a trabalhar com a mesma seu leite aumentou e ele me disse que o nutricionista é muito bom. Não estou aqui, de forma alguma banalizando o papel do nutricionista ou a importância da qualidade de um núcleo mineral tecnificado, com aditivos, probióticos, etc. Estou tentando esclarecer que a nutrição, os insumos, são apenas peças dentro de um contexto global. Muitos produtores assistem palestras sobre nutrição e recebem a informação de que biotina é importante para a saúde dos cascos. De fato, os resultados científicos são interessantes e seu uso pode ser interessante. Seus problemas de casco não serão sanados, entretanto se o produtor tiver uma “nutrição de precisão” com mega produtos, um excelente profissional prestando assistência se sua mão-de-obra, por exemplo, não for controlada. Um núcleo mineral pode ser barato se inserido corretamente numa dieta, mas passará a ser extremamente caro se for comprometido por problemas de manipulação, por exemplo.

Outro dia conversando com um grande professor, o mesmo disse algo que concordo plenamente. Disse que é impressionante a voracidade, necessidade e vontade de produtores em trocar constantemente suas dietas em busca de maior produção. Sua recomendação: “Cheque a dieta de uma fazenda, verifique se não há nenhum grande erro. Preste atenção no manejo. Eleja seus pontos fracos e fortes. Discuta os mesmos com o proprietário. Escute. Escute sobre seus problemas, suas necessidades e anseios. Avalie a propriedade como um todo. Corrija a dieta, se necessário, claro e mantenha a mesma, se possível ao longo do ano. Direcione seu trabalho na gestão da empresa e pessoas. Verás que atingirás melhores índices do que com eventuais ajustes e trocas mensais de dietas”. Na veia. Perfeito!

Acredito que antes de ajustarmos o “micro”, é necessário avaliarmos o “macro”. Ajustes finos são fundamentais e garantem resultados em sistemas estabilizados, à pleno vapor. Ajustes finos em sistemas comprometidos, ineficientes, são inócuos e onerosos. Voltando às prerrogativas iniciais do nosso post, tecnologia nem sempre está associada a gastos. De nada adianta comprarmos um saleiro de concreto maravilhoso se locarmos o mesmo de modo ineficiente sem que o gado consiga consumir mineral adequadamente. Se colocarmos sal mineral em pedaços de pneu cortados em locais corretos, obteremos mais resultados, com custo mais baixo, mais eficiência e mais tecnologia, conseqüentemente. É impressionante como existe a associação do gasto com eficiência. Isso é um problema sério, que deve ser esclarecido e elucidado. Não é difícil chegarmos a conclusões e avaliações corretas quando assessoramos sistema de produção de leite. Desde que sejamos humildes, tenhamos a capacidade de escutar (do patrão ao empregado). Desde que haja bom senso.

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