Quando pensamos em produção de leite e crescimento de rebanhos, inegavelmente, temos que discutir aspectos reprodutivos. A reprodução de bovinos, de certa forma é negligenciada por uma gama, relativamente grande, de produtores.
É muito comum produtores ficarem insatisfeitos com médicos veterinários e associarem sucesso no manejo reprodutivo ao trabalho dos especialistas em reprodução. Tenho uma visão (particular), completamente contrária em relação ao assunto. Sob meu ponto de vista, uma das áreas mais técnicas que envolve o manejo de bovinos é a avaliação do status reprodutivo do rebanho: o toque ou palpação, simplesmente. É necessário uma boa leitura das condições de ovário, útero e a correta recomendação de hormônios que possam acelerar o retorno ao ciclo estral. No entanto, para que todo este trabalho funcione, toda a fazenda deve estar “redonda”. O médico veterinário que realiza diagnóstico de prenhez, pouco pode fazer em relação à reprodução (para melhorá-la) se a alimentação dos animais (nutrição: qualidade, quantidade e constância no fornecimento) e conforto não estiverem em ordem. A sanidade/saúde (outro aspecto fundamental) também é conseqüência. Por melhor que seja o profissional e sua recomendação: “dê prostaglandina a esta vaca”, “esta vaca está com cisto, entre com Gnrh”, “implante progesterona nessa aqui”, “faça infusão uterina nessa outra...”. A verdade é que pouco efetivos serão os resultados se as vacas forem: a-) mal alimentadas (dietas mal balanceadas); b-) se abrirem lactação com baixo escore de condição corporal (ECC baixo) – problemas no manejo de vacas secas (ou período de transição) ou c-) se forem submetidas à condições de stress térmico (no período seco e, principalmente, no decorrer da lactação). Logo, escute as considerações do seu veterinário, não brigue com o mesmo e entenda que suas recomendações são fundamentais para o sucesso do seu negócio e que sua atuação envolve diagnósticos e recomendações. Não “desconte” no mesmo outros problemas ou dificuldades da atividade, nem exija do mesmo a solução total da reprodução. Ele pode e irá te ajudar, mas o trabalho é conjunto.
Atualmente, o que tem chamado muito a minha atenção é que, mesmo com as dificuldades usuais acima descritas (nem descrevemos a participação da mão-de-obra ainda, no processo), tenho escutado e conversado cada vez mais com produtores que estão fazendo uso da IATF. Alguns colegas consideram a IATF como a “solução para os problemas de fertilidade de um rebanho”. Digo isso porque implantar protocolos gera custos adicionais à dose de sêmen para uma concepção. Os custos serão ainda maiores se houver fracasso.
Tenho uma visão um pouco diferente sobre o tema e gostaria de compartilhar, dividir e receber sugestões de diferentes profissionais. Não considero a IATF como a solução de problemas. Considero a IATF uma importante ferramenta de manejo para resolver problemas de vacas atrasadas e/ou grandes produtoras com histórico de cistos ovarianos. Uso e recomendo IATF para animais nestas condições, ressalto. Quando temos vacas sadias, ciclando, recomendo, aprovo e fico satisfeito com a velha prostaglandina, quebrando CL (corpo lúteo) e antecipando cios. Acredito que o nosso papel deve ser de estimular, controlar e promover a melhor detecção de cios entre os funcionários. A função do inseminador, claro, é inseminar. O sucesso da inseminação depende da correta detecção de cio. O veterinário passando uma vez por mês numa propriedade torna o trabalho ainda mais fácil. Após sua visita, em qualquer fazenda é natural que a atenção na detecção de cio redobre... pois prostaglandinas foram aplicadas. Para vacas problemas, então vamos de IATF. Há quem diga que o uso de protocolos é interessante para promover concentração de partos. Em casos particulares como Nova Zelândia e pecuária de corte (no Brasil), a conversa é outra, mas em termos de Brasil (como um todo), esta recomendação procede? É muito importante aqui apontarmos para a questão da escolha correta de animais que serão submetidos à IATF. Para isso necessitamos de profissionais com comprovada experiência. Nem todo ovário reponde adequadamente ou como desejamos aos protocolos pré-estabelecidos. O grande maestro neste momento é o especialista em reprodução. Aquele que coloca a mão e conhece, de fato, o interior do animal (pois passa a maior parte do ano realizando palpações).
Infelizmente tenho recebido a notícia de que alguns profissionais estão recomendando IATF em bovinos de leite como se estivéssemos trabalhando com manejo de bovinos de corte. É possível trabalhar com IATF em larga escala em fazendas de leite? Claro. É possível termos sucesso com IATF em larga escala? Claro. O que discuto aqui não é a eficiência do processo. O mesmo quando corretamente aplicado funciona muito bem (recomendável). O que discuto é que ao mesmo tempo em que ajuda, gera problemas em muitos outros. Existem fazendas que adotam ou usam IATF por períodos ou esporadicamente. A IATF, é muito interessante por um lado, mas acaba criando problemas como acomodação e “preguiça” por parte dos funcionários em muitos casos. “Não preciso mais diagnosticar cio”. “Não preciso mais atentar ou ficar correndo o rebanho porque quando o veterinário vier, ele resolve tudo: é Ciosin® para todo lado, IATF, numa boa parte e boa! Acaba gerando um bom volume de IA´s”.
Perguntas: está correto isso? Até que ponto devemos aceitar essas condições? A IATF pode ser generalizada ou deve ser criteriosa? Em que direção estamos caminhando? Novamente, acredito que seja necessário bom senso e critérios. A IATF veio para ficar, não tenho dúvidas. Assim como o ultra-som, avaliação e diagnóstico por imagens. Ferramentas fundamentais para manejar a reprodução de bovinos. Diagnósticos de gestação a partir de 25 dias de gestação é rotina para bons profissionais (capacitados e equipados). Segundo toque (palpação) também é muito importante ser realizado em função de perdas embrionárias (mais usuais em rebanhos HPB). O uso de sêmen sexado também é outra alternativa recomendada e tecnologia que deverá evoluir cada vez mais. Manifeste sua opinião.
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