O setor leiteiro da Argentina começou uma fase de liquidação de vacas, o que promoverá uma redução significativa na oferta de leite, fenômeno que já ocorreu no setor de carne.
A redução do rebanho leiteiro ocorre em duas vias. A primeira é a redução por parte dos produtores em atividade, que liquidam algumas de suas vacas para ajudar nas despesas e a segunda ocorre por produtores que, ao desistirem da produção de leite, vendem seus animais para se dedicarem a outras atividades como a agricultura. Nesse último caso, parte das vacas são adquiridas por outras fazendas leiteiras (processo de concentração) e parte é abatida.
No atual contexto, as indústrias de lácteos começaram a aumentar nos últimos meses o valor do leite pago aos produtores para tentar evitar uma maior perda, mas a desvalorização acelerada do peso argentino neutralizou essa estratégia.
Os produtores argentinos, em média, estão recebendo US$ 0,34 por litro de leite, enquanto os produtores de leite do Uruguai, em fevereiro, receberam US$ 0,40 por litro. Neste país, também também houve queda na produção de leite, pois os produtores estão considerando que os preços recebidos não são suficientes para cobrir os crescentes custos de produção.
No Uruguai, o milho está mais caro, com um custo atual de US$ 250 por tonelada. Em janeiro, eram necessários em média 0,55 litros de leite para comprar um quilo de milho na Argentina versus 0,65 litros no Uruguai. Porém, o fato é que o subsídio fornecido pelos produtores de milho (produto das retenções e da intervenção oficial) não conseguem compensar os aumentos permanentes nos custos dos salários, energia e combustíveis (além disso, muitos produtores de leite também são produtores de seu próprio milho).
A capacidade da indústria de lácteos argentina para seguir aumentando o valor pago aos produtores é bastante limitada devido ao congelamento (virtual) dos preços que começaram a ser aplicados pelas principais cadeias de supermercados por ordem da Secretaria de Comércio Interior.
O certo é que essa política – que aparentemente seguiria até o final desse ano – congelou os preços atacadistas da maior parte dos produtos lácteos. Porém, os custos de produção das usinas de leite, os salários sindicalizados, a energia e outros custos, seguem aumentando.
A possibilidade de uma melhora dos preços internacionais do leite em pó poder ser repassada aos produtores, como ocorre no Uruguai, é inviável no marco da política econômica kirchnerista.
A falta de um preço adequado ao setor leiteiro afeta a todos por igual na Argentina, dos pequenos produtores até as grandes fazendas leiteiras de Credud e Adecoagro – duas das maiores companhias agropecuárias argentinas -, que também estão perdendo dinheiro.
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